Você é homem e tem mais de 55 anos? Se é mulher, está acima do peso ou fuma? Se a resposta for sim, de acordo com a última recomendação médica, você deve ir à farmácia mais
próxima, comprar uma caixa do remédio Zocor para reduzir o
colesterol e tomá-lo pelo resto da sua vida.
O médico John Reckless, presidente da sociedade de cuidado
com o colesterol Heart UK e consultor em endocrinologia na
Universidade de Bath, afirma que tal ação vai reduzir em 30%
o risco de você ter um infarto. Recentemente, Reckless
recomendou a inclusão de tais drogas, chamadas estatinas, no
fornecimento de água, argumentando que elas são efetivas e
extremamente seguras.
Desde agosto, se o seu médico não considerava o risco de você
ter uma doença cardíaca suficientemente alto para prescrever
o remédio, você podia comprar o Zocor (também conhecido como
simvastatin) sem receita. E uma campanha publicitária
apoiando a atitude acabou de ser lançada.
Mas poderia o entusiasmo vigente pelas estatinas ser motivado
por interesses comerciais e baseado em dados mal-
interpretados? Recentemente, alguns especialistas médicos
saíram a público com detalhes preocupantes sobre como os
benefícios largamente aceitos das estatinas são exagerados.
Suas preocupações foram descritas em uma carta aberta enviada
para os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e o Programa
Nacional de Educação sobre Colesterol, na qual pedem uma
reavaliação radical das linhas de direção que regem o uso de
estatinas.
Assinada por mais de 30 pesquisadores e clínicos de
universidades e centros médicos prestigiados, incluindo
Harvard, Cornell e Johns Hopkins, ela faz duas afirmações
impressionantes: não haveria evidências de que as estatinas
beneficiam mulheres não infartadas, e a redução dos níveis de
colesterol em pacientes idosos aumentaria o risco de
desenvolver outras doenças, como câncer.
Preocupações similares sobre o valor e a segurança das
estatinas já haviam surgido, mas sempre de forma isolada por
um ou outro pesquisador. Um dos críticos é o professor Tom
Saunders, nutricionista no King's College de Londres, que se
opõe à idéia de Reckless de colocar estatinas na água.
Ele afirma que as drogas têm efeitos
colaterais "significativos", e levanta dúvidas sobre o valor
para pacientes que não sofreram infarto. "O benefício é
realmente restrito a pessoas que apresentam risco elevado",
diz. "Não temos testes sobre o efeito da prescrição a grupos
de baixo risco."
Outra crítica foi feita por John Abramson, da Escola Médica
Harvard, citado no "British Medical Journal", opondo-se à
venda sem receita das estatinas nos EUA. "Na prevenção
primária [por exemplo, em pessoas sem doenças cardíacas], a
terapia com estatinas não reduz significativamente a
mortalidade ou o risco médio de doenças sérias", diz.
A carta para as NIH é um passo significativo, pois é a
primeira vez que os oponentes da terapia com estatinas juntam
forças.
Ação e reação
A carta foi uma resposta ao programa de educação sobre
colesterol, lançado em 2001 pelo Instituto Nacional do
Coração, Pulmão e Sangue. Ele recomenda que as estatinas
sejam prescritas para mulheres com risco moderadamente alto
de doenças cardíacas.
Isso é parte de um desafio maior para as autoridades médicas.
Na semana passada, o FDA (órgão que regula remédios e
alimentos nos EUA) determinou que os ISRS (Inibidores
Seletivos de Recaptação de Serotonina, um tipo de
antidepressivo) deveriam ser vendidos com uma tarja preta de
aviso. Por dez anos, associações profissionais de psiquiatria
e empresas farmacêuticas afirmaram que os ISRS eram seguros.
Mas resultados de testes, que críticos diziam ter sido
ignorados ou suprimidos, finalmente convenceram o FDA que
adolescentes tratados com as drogas são, na verdade, mais
passíveis de se tornarem suicidas.
Os signatários da carta aos NIH obviamente suspeitam que há
uma ligação similar com estatinas. Eles pedem "uma revisão
independente, livre de conflitos de interesse, para rever
todos os dados" sobre o assunto.
(Fonte:Jerome Burne do "The Independent") |
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