O Prêmio Campos da Paz, conferido anualmente pela Sociedade Brasileira de Reprodução Humana ao trabalho acadêmico de maior impacto para a especialidade, coube este ano à pesquisa "Mutações do gene
> codificador da enzima metileno tetrahidrofolato redutase e sua associação com a trissomia do cromossomo 21", conduzida pelos médicos Gregório Lourenço Acácio, Ricardo Barini, Carmem Sílvia Bertuzzo, Egle Couto de Carvalho, Walter Pinto Jr. e Joyce Maria Annichino-Bizzacchi.
Os médicos realizaram um estudo comparativo entre um grupo de 88 mulheres com filhos normais e sem abortos e um segundo grupo de 70 mulheres com filhos portadores de síndrome de Down (SD). "Neste grupo, encontramos uma proporção maior de mulheres com as mutações enzimáticas do que naquelas que haviam tido filhos normais", relata o dr. Ricardo Barini, professor associado e livre docente de Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
Ele explica que a presença de mutações no gene da enzima MTHFR produz uma enzima com menor atividade funcional e reduz a quantidade de ácido fólico disponível para a duplicação celular. Esse déficit termina interferindo na produção do DNA que, ao ser duplicado no processo de divisão celular, não é distribuído de modo igualitário entre as diversas células filhas. "Essa interferência permite que a separação dos cromossomos nas primeiras divisões celulares do embrião ocorra de forma inadequada, levando uma célula a permanecer com um cromossomo 21 extra e outra célula com menos um deste par cromossômico", detalha o professor da Unicamp. No segundo caso o embrião não se torna viável porque a divisão celular é interrompida. Mas o embrião que fica com o cromossomo excedente resultará numa criança com síndrome de Down. No grupo estudado o risco relativo para gerar um filho com SD foi de 5 a 6 vezes maior que na população em geral. Nas mulheres com idade inferior a 35 anos, esse risco é 9 vezes maior, de acordo com o médico.
A conclusão da pesquisa é clara quanto à necessidade de acréscimo da vitamina: "Alertamos para o fato de que a suplementação com ácido fólico por três meses antes da concepção e nas primeiras semanas de gravidez pode reduzir o risco de desenvolvimento de uma criança com SD aos níveis da população normal", reforça o dr. Ricardo Barini.
O trabalho, considerado pioneiro pela comissão científica do do XXI Congresso Brasileiro de Reprodução Humana, que terminou no último dia 13 em São Paulo, será publicado na revista Climatério e Reprodução, a mais importante da especialidade em língua portuguesa. O nome dado ao premio remete ao ilustre colega Dr. Campos da Paz, nobre ginecologista que batalhou arduamente pela saúde da mulher, em especial na área da prevenção do câncer ginecológico
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